Pelo direito ao grito e a crítica no hip-hop
maio 10, 2014
Ontem logo quando entrei no facebook vi uma atualização da página +Vai Ser Rimando onde o então ''rapper'' Nocivo Shorão ops, Shomon deu uma resposta bem infeliz e machista a uma mulher em seu facebook. E também ontem quando cheguei em casa entrei novamente no facebook (vicio: ok) e vi o texto escrito pela jornalista Jéssica Balbino e resolvi compartilhar com vocês.
Sei que vocês devem estar se perguntando o porque de estar postando sobre esse assunto. E estou postando sobre ele por ser militante do movimento hip hop (por isso várias publicações relacionadas ao movimento irão aparecer aqui) e comentários como os de Nocivo, jamais passaram. E faço das palavras da Jéssica, minhas palavras. *O texto é um pouco extenso mais vale muito a pena a leitura.
“Paz, amor, diversão e união”. Foi com esse objetivo que surgiu o
hip-hop e embora a tradução signifique ‘mexer o quadril’, vai bem além
de simplesmente rebolar. Exige luta, resistência e personalidade. E por
isso a minha decisão em escrever este texto: para dizer que estou
perplexa com os comentários do ‘rapper’ (entre aspas, porque não o
considero um integrante da cultura hip-hop) Nocivo Shomon (Fernando
Soares Pereira) diante de uma crítica recebida por causa do preço e da
‘qualidade’ de um beat produzido por ele mesmo.
Que ele é ramelão eu já sabia, afinal, um ‘artista’ que só aparece para criticar outros não tem lá muita credibilidade. Não o conheço e imagino que ele também não me conheça. Não que eu faça questão. Mas também não preciso me explicar para ninguém. Este texto surgiu como um grito dentro de mim para chamar a atenção para algo que vai muito além: o silêncio e a cumplicidade de toda cultura hip-hop diante de uma declaração como: “Mina zuada, nem o post quer namorar. Vai lavar uma louça, recalcada, o que você quer tem dona, gordinha com cara de nerd.”
Quer dizer que a mulher só critica homens com quem ela não
‘consegue’ transar. Desculpa, Nocivo Shomon, mas se estivermos eu, você e
o camelo no deserto, eu fico com o camelo e isso não tira o meu direito
de criticar sua postura diante de uma cultura tão rica, tão bela e tão
construtiva.
É sério que este silêncio todo diante da cena significa que todos concordam que as mulheres devem só lavar louça?! Desculpa mais uma vez, mas eu não me calo. E não lavo a louça. Eu lavo a alma fazendo o que eu gosto. E mais uma vez, derramando palavras sobre o que me incomoda. Sobre absurdos propagados como se fosse algo natural. Sobre ‘rappers’ que se julgam tão superiores ao restante do mundo que não aceitam receber uma crítica. E reagem a ela com machismo.
E onde entra o fato dela ser gorda com o fato de não ter gostado do
beat produzido por ele?! Democraticamente, temos o direito de gostar ou
não de algo. Assim como de dizer ou não o que pensamos. Mas muita gente
não sabe que falar/escrever o que se pensa em redes sociais pode trazer
consequências. E muita gente segue aplaudindo a diarreia verbal diário
do MC que canta … que canta… qual música mesmo? Do MC que é famoso por…
por… por criticar outro MC que trabalha pra caramba – e também tem
defeitos – mas que ao contrário dele, foca-se no que deve ter foco e
trabalho. Simplesmente trabalha. Entretanto, o mérito da questão não é
este. Mas, volta a ser o silêncio do hip-hop diante disso.
Sou mulher, sou gorda e sou do hip-hop. E NÃO ACEITO MACHISMO. É simples assim. Não aceito isso para mim e nem para a cultura da qual faço parte. Não admito que uma pessoa diga absurdos e propague o machismo de forma impune por meio de seus ‘trabalhos’ e comentários. E gostaria que mais ‘lutadores’ e ‘reis da rua’ surgissem agora para defender seus ideais.
Nós, mulheres, estamos cansadas de sermos tratadas, julgadas e apontadas por machistas. Especialmente no hip-hop. O mundo já é escroto o suficiente e estamos lutando para transformá-lo em um ambiente menos horrível. Mas, não me venha com o velho papinho de que ‘o hip-hop é uma reprodução da sociedade e o mundo é machista, então ele também é’. Isso é antigo. CHEGA! Tá na hora de mudar. De gritar, de não mais calar.
Dói em mim comentários desse tipo. Dói em mim não pela pessoa que o fez, porque ele não tem relevância nenhuma para mim, mas dói porque ele, infelizmente, ‘carrega’ – de negatividades – o nome da cultura que faço parte e que tanto amo. Não dá pra ficar calada diante disso. Não dá pra ficar quieta quando sites repercutem a declaração como ‘notícia’ e colocam em xeque a credibilidade da pessoa que criticou um som e foi agredida por ser mulher. E a pergunta é: se fosse homem ele responderia da mesma maneira?
Se um homem criticasse o beat, Nocivo Shomon diria que é porque ele não transou com ele? Mandaria ele lavar a louça? Será? E ainda querem me dizer que não é machismo, ou justificar que o machismo deve ser reproduzido porque é algo que está enraizado na sociedade. Não dá pra eu me calar. O MACHISMO MATA!
Quando um artista do hip-hop fez uma música que eu julguei machista, eu me posicionei. Eu disse o que achava. Eu critiquei também. E ele foi homem o suficiente para conversar comigo sobre, até chegarmos a conclusão que estamos do mesmo lado e que não precisamos brigar entre nós. O inimigo é outro.
Então, perder tempo com isso ou textos que rebatem isso ou aquilo não faz meu estilo. Hoje foi necessário. Hoje foi preciso para conseguir digerir o dia. Para vomitar o mal que o machismo me faz. Para gritar por respeito.
Quando conheci a cultura hip-hop, jamais imaginei que alguns integrantes seriam tão misóginos ao ponto de terem algumas atitudes que vão completamente contra o que prega a cultura.
E hip-hoppers: aceitem críticas. Quem faz arte, se expõe e está suscetível a comentários que podem ou não ser construtivos. Aprendam a ouvir. Aprendam a melhorar. Vocês não são superiores ao mundo. A cultura é linda. Mas as pessoas são imperfeitas e os trabalhos tem defeitos. Aceitem! Simplesmente aceitem e melhorem.
E sim! Eu vou criticar por texto. E critico pessoalmente se for preciso. E vou até onde for, se houver necessidade. Inclusive, tenho trabalhado muito em prol da cultura. Procure saber.
Para resumir: tenho 15 anos de história no hip-hop, ajudando a construir a cultura – e nunca precisei atacar ninguém para isso – me empenho, por amor, em escrever nossa própria história. Tenho dois livros publicados, participação em várias antologias, trabalhos com diferentes rappers e setores dentro da cultura e ativismo social e cultural, além de integrar coletivos feministas como Frente Nacional de Mulheres no Hip-Hop, Hip-Hop Mulher e Mjiba. Se eu estou aqui e escrevo este texto é porque muitas mulheres brigaram por mim antes disso. Muitas vestiram roupas largas e cantaram com a voz grossa para entrar num movimento misógino. Muitas apanharam. Poucas bateram. Mas toda a luta foi necessária para que eu fizesse parte desta cultura e desse continuidade a esta luta. Não preciso ‘pegar carona’ na polêmica de ninguém para aparecer. Preciso aparecer neste momento para gritar a minha indignação, que sangra por dentro e por fora, diante de um machismo que tenta me calar diariamente.
Enquanto você leu este texto, pelo menos cinco mulheres foram agredidas e duas delas morrem no Brasil, segundo a pesquisa Data Popular, publicada no último ano, por causa de frases e reações NOCIVAS e machistas como a do Nocivo Shomon.
*Jéssica Balbino é jornalista e vive o hip-hop
Sei que vocês devem estar se perguntando o porque de estar postando sobre esse assunto. E estou postando sobre ele por ser militante do movimento hip hop (por isso várias publicações relacionadas ao movimento irão aparecer aqui) e comentários como os de Nocivo, jamais passaram. E faço das palavras da Jéssica, minhas palavras. *O texto é um pouco extenso mais vale muito a pena a leitura.
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Que ele é ramelão eu já sabia, afinal, um ‘artista’ que só aparece para criticar outros não tem lá muita credibilidade. Não o conheço e imagino que ele também não me conheça. Não que eu faça questão. Mas também não preciso me explicar para ninguém. Este texto surgiu como um grito dentro de mim para chamar a atenção para algo que vai muito além: o silêncio e a cumplicidade de toda cultura hip-hop diante de uma declaração como: “Mina zuada, nem o post quer namorar. Vai lavar uma louça, recalcada, o que você quer tem dona, gordinha com cara de nerd.”

Ok. Sei que ele postou na página dele e os que combatem o feminismo
dirão: cada um posta o que quer/ a mulher também foi grosseira, entre
outras coisas, que só destroem o objetivo inicial do hip-hop, que seria
propagar a paz, amor, diversão e união. Para mim, é descabido que muitos
‘fãs’ de Nocivo concordem com este comportamento. Aplaudam as ofensas
feitas à mulher que fez o comentário e foi totalmente agredida. O fato
dela não gostar de um beat fez com que ele a resumisse em uma pessoa
carente. Uma pessoa rejeitada por ele. Peraí?! O que a qualidade (ou
falta dela), no trabalho dele tem a ver com desejo sexual? Qual a
ligação entre estas duas coisas? Desculpa, mas não consigo enxergar.
É sério que este silêncio todo diante da cena significa que todos concordam que as mulheres devem só lavar louça?! Desculpa mais uma vez, mas eu não me calo. E não lavo a louça. Eu lavo a alma fazendo o que eu gosto. E mais uma vez, derramando palavras sobre o que me incomoda. Sobre absurdos propagados como se fosse algo natural. Sobre ‘rappers’ que se julgam tão superiores ao restante do mundo que não aceitam receber uma crítica. E reagem a ela com machismo.

Sou mulher, sou gorda e sou do hip-hop. E NÃO ACEITO MACHISMO. É simples assim. Não aceito isso para mim e nem para a cultura da qual faço parte. Não admito que uma pessoa diga absurdos e propague o machismo de forma impune por meio de seus ‘trabalhos’ e comentários. E gostaria que mais ‘lutadores’ e ‘reis da rua’ surgissem agora para defender seus ideais.
Nós, mulheres, estamos cansadas de sermos tratadas, julgadas e apontadas por machistas. Especialmente no hip-hop. O mundo já é escroto o suficiente e estamos lutando para transformá-lo em um ambiente menos horrível. Mas, não me venha com o velho papinho de que ‘o hip-hop é uma reprodução da sociedade e o mundo é machista, então ele também é’. Isso é antigo. CHEGA! Tá na hora de mudar. De gritar, de não mais calar.
Dói em mim comentários desse tipo. Dói em mim não pela pessoa que o fez, porque ele não tem relevância nenhuma para mim, mas dói porque ele, infelizmente, ‘carrega’ – de negatividades – o nome da cultura que faço parte e que tanto amo. Não dá pra ficar calada diante disso. Não dá pra ficar quieta quando sites repercutem a declaração como ‘notícia’ e colocam em xeque a credibilidade da pessoa que criticou um som e foi agredida por ser mulher. E a pergunta é: se fosse homem ele responderia da mesma maneira?
Se um homem criticasse o beat, Nocivo Shomon diria que é porque ele não transou com ele? Mandaria ele lavar a louça? Será? E ainda querem me dizer que não é machismo, ou justificar que o machismo deve ser reproduzido porque é algo que está enraizado na sociedade. Não dá pra eu me calar. O MACHISMO MATA!
Quando um artista do hip-hop fez uma música que eu julguei machista, eu me posicionei. Eu disse o que achava. Eu critiquei também. E ele foi homem o suficiente para conversar comigo sobre, até chegarmos a conclusão que estamos do mesmo lado e que não precisamos brigar entre nós. O inimigo é outro.
Então, perder tempo com isso ou textos que rebatem isso ou aquilo não faz meu estilo. Hoje foi necessário. Hoje foi preciso para conseguir digerir o dia. Para vomitar o mal que o machismo me faz. Para gritar por respeito.
Quando conheci a cultura hip-hop, jamais imaginei que alguns integrantes seriam tão misóginos ao ponto de terem algumas atitudes que vão completamente contra o que prega a cultura.
E hip-hoppers: aceitem críticas. Quem faz arte, se expõe e está suscetível a comentários que podem ou não ser construtivos. Aprendam a ouvir. Aprendam a melhorar. Vocês não são superiores ao mundo. A cultura é linda. Mas as pessoas são imperfeitas e os trabalhos tem defeitos. Aceitem! Simplesmente aceitem e melhorem.
E sim! Eu vou criticar por texto. E critico pessoalmente se for preciso. E vou até onde for, se houver necessidade. Inclusive, tenho trabalhado muito em prol da cultura. Procure saber.
Para resumir: tenho 15 anos de história no hip-hop, ajudando a construir a cultura – e nunca precisei atacar ninguém para isso – me empenho, por amor, em escrever nossa própria história. Tenho dois livros publicados, participação em várias antologias, trabalhos com diferentes rappers e setores dentro da cultura e ativismo social e cultural, além de integrar coletivos feministas como Frente Nacional de Mulheres no Hip-Hop, Hip-Hop Mulher e Mjiba. Se eu estou aqui e escrevo este texto é porque muitas mulheres brigaram por mim antes disso. Muitas vestiram roupas largas e cantaram com a voz grossa para entrar num movimento misógino. Muitas apanharam. Poucas bateram. Mas toda a luta foi necessária para que eu fizesse parte desta cultura e desse continuidade a esta luta. Não preciso ‘pegar carona’ na polêmica de ninguém para aparecer. Preciso aparecer neste momento para gritar a minha indignação, que sangra por dentro e por fora, diante de um machismo que tenta me calar diariamente.
Enquanto você leu este texto, pelo menos cinco mulheres foram agredidas e duas delas morrem no Brasil, segundo a pesquisa Data Popular, publicada no último ano, por causa de frases e reações NOCIVAS e machistas como a do Nocivo Shomon.
*Jéssica Balbino é jornalista e vive o hip-hop
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muito obrigada pelo lindo comentário.
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💙